07. Engenho Novo
tradição oral brasileira / Brazilian oral tradition, Rio Grande do Norte
Coco recolhido por Mário de Andrade no engenho de Bom Jardim em 1929, que teve como informante o famoso coqueiro/embolador Chico Antônio. Mário escreveu uma extensa pesquisa sobre os cantadores, e refere-se sempre ao seu surpreendente encontro com este embolador com admiração por sua musicalidade, qualidade artística e capacidade de improvisação. Pretendia publicar essa pesquisa em livro sobre música popular do Nordeste com o nome de Na Pancada do Ganzá – uma referência ao único instrumento de percussão utilizado como acompanhamento rítmico pelo cantador – o que seria por si só uma homenagem implícita a Chico. (ANDRADE, 1984, p. 38;108;109). O arranjo do ANIMA parte deste material para recriar sonoridades modernistas, ao estilo do Trenzinho Caipira de Villa-Lobos, explorando o caráter hipnótico do virtuosismo vocal das emboladas e o movimento repetitivo, quase maquinal, da percussão e do cravo.
Tatá, engenho nov´
Tatá engenho novo´,
Ôta lá que chega povo,
Bate Parma, dá num dá!
Ôh tatá, camaradinha,
Passiei nas Alagoa,
Me topei cum coisa boa,
Pelejei num pude entrá!
Ôh tatá, eu vi o bombo
Rebolando pelo chão,
Eu vi a quilaridão
Da usina do Pilá!
Ôh tatá, olha coquêro,
Na bolada americana,
Si o esprito num m’ingana
Eu também sei o bòlá!
Ôh tatá, bòlada num,
Bòlada num, bòlada nôtro,
Atirei cum bola sôrta
Num jôgo de rebòlá!
Ôh tatá, fala coquêro,
Da cabeça de quimbuca,
Você hoje se amaluca
Da pancada do ganzá!
Ôh tatá, fala coquêro,
Da barriga de monturo,
Você fala no iscuro
Porquê meu talento dá!
Ôh tatá, ande ligêro,
Sustente a sua carrêra,
É Paraíba, é Cajazêra,
Pise nu chão divagá!
Ôh tatá, tome cuidado,
Eu tando num carreirão
Ajuei’ (Ajoelhe), tome benção,
Sustente seu maracá!
Nota – Quimbuca é cuia redonda; a grafia é original de Mário de Andrade
Dalga Larrondo: zarb
Isa Taube: voz / voice
Luiz Fiaminghi: rabeca 1 / Brazilian fiddle 1
Patricia Gatti: cravo / harpsichord
Ricardo Matsuda: viola brasileira / Brazilian 10-string guitar
Valeria Bittar: flautas-doce 2 e 3 (como doppio) / recorders 2 and 3 (as doppio)
adaptação e arranjo / arrangement: Grupo ANIMA